"Não nos assusta morremos pela Pátria mas sim sermos enterrados com ela." (Cunha Leal)


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Desleixo governativo

A centenária Escola Secundária Afonso Domingues, fundada em 1884 e localizada, presentemente, na freguesia de Marvila - Lisboa foi, desde sempre, um excelente polo formador de cursos nas áreas da Electrónica, Química, Electricidade, Mecânica, Desenho Industrial e Informática (entre outros). Era, muito justamente considerada, a nível nacional, um dos melhores estabelecimentos de ensino técnico, num País onde não abundavam (infelizmente) os cursos secundários de pendor técnico (mas onde abundam engenheiros domingueiros e doutores credenciados em folclore).


No decurso da triste governação de José Sócrates, com a decisão de se construir uma terceira ponte sobre o rio Tejo, que ligaria o Barreiro a Lisboa o traçado da mesma, na margem da capital, colidia com a localização geográfica da Escola pelo que se decidiu pelo encerramento escolar, triste evento esse o que veio a ocorrer em 2010. Optou-se pelo seu encerramento, puro e simples, sem sequer os governantes da altura terem arranjado uma outra localização para o funcionamento da mesma.
 
Opositor a este encerramento perfilou-se, entre outros, a Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues tendo, para tal, lavrado uma excelente e bem estruturada exposição, da qual deu voz pública mas sem sucesso. Sobre esta exposição, cuja leitura recomendo, pode-se consultar a mesma, por exemplo, no blogue "alma_lusíada.blogspot.pt/2010/07/completando-notícia-do-público-de-hoje.html".
 
Antes do seu encerramento e já se sabendo da sua morte anunciada, o Estado (ou seja nós todos os que cumprimos as nossas obrigações fiscais) reestruturou todo o equipamento escolar do edifício, despendendo uma pipa de dinheiro que acabou por não ter aproveitamento, face ao encerramento da mesma. Ou talvez caiba a pergunta: não terá tido aproveitamento para alguns amigos do poder que efectuaram as referidas obras de modernização do edifício?
 
No fim de tudo, e como triste final de história, com a chegada de novos governantes, a construção da ponte foi inviabilizada e a Escola, em vez de ter sido reaberta, ficou fechada e a degradar-se. Como ainda hoje, quem passa por lá, pode observar. Todo um património escolar foi deitado fora, em nome da vã glória de mandar.
 
Fez-me lembrar uma frase de Victor Hugo: "Cada escola que se fecha é uma prisão que se abre."
 
////////////////////////////////////////////
 
Os Bombeiros Voluntários do Beato são uma corporação humanitária que servem a freguesia onde estão inseridos. Estão pessimamente instalados, há décadas, sem quartel decente próprio e não têm parque de estacionamento para as suas viaturas operacionais, sendo obrigados a aparcarem as mesmas e procederem aos seus arranjos na rua, com todos os incómodos que daí advém não só à circulação do trânsito como também à segurança do mesmo.


Apesar de não concordar com a  existência de bombeiros voluntários (para mim devia de existir um Corpo Nacional de Bombeiros, profissionais suportados pelo Orçamento do Estado) não é essa a questão que quero abordar. Respeito estes em concreto, como respeito todas as outras corporações, pelo excelso serviço humanitário que nos prestam.
 
Uma das propostas colocadas em cima da mesa aos nosso governantes, e pela qual a Junta de Freguesia do Beato se tem batido, era transferir esta corporação para as instalações da extinta Escola Secundária Domingos Rebelo. Sobre esta tomada de posição pode-se consultar o boletim da referida Junta subordinada ao título: "Um novo quartel para os bombeiros do Beato: uma luta de décadas." Traria vantagens para todos, pois sempre seria uma mais valia para os bombeiros mas também para o Estado já que aqueles cuidariam das instalações do complexo escolar em causa, travando a sua degradação.
 
O processo está praticamente todo concluído, depois de ter obtido a aprovação do Ministério da Educação, da Direcção Regional de Educação de Lisboa, e do Ministério da Administração Interna. Então o que falta? Pelo que apurei... falta a assinatura do Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar.
 
Ou seja, estão centenas de milhares de euros a irem pelo esgoto, face à degradação permanente do complexo escolar, alvo indefeso de constantes de vandalismos face ao seu abandono (depois do que se gastou em modernizá-la para de seguida encerrá-la); está toda uma corporação humanitária a funcionar em condições infra-humanas; os benditos carimbos burocráticos estão todos colocados nas actas, mas... falta o Exmº Senhor Secretário de Estado se dignar a botar a sua assinatura.
 
Deve ser uma decisão muito difícil de tomar, esta de assinar um documento, depois de todos terem concordado. Será que ele anda a dormir? Será que o processo se perdeu nos meandros dos corredores da Secretaria de Estado? Será que ele se esqueceu do assunto? E será que ele também se esquece de levantar o vencimento que lhe cabe pelas funções governativas que exerce?
 
Para não pensar o pior, o mínimo que se pode dizer é que isto é mais um exemplo de desleixo governativo, por não cuidarem da coisa pública a que estão obrigados.

Sem comentários:

Enviar um comentário