"Não nos assusta morremos pela Pátria mas sim sermos enterrados com ela." (Cunha Leal)


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Desleixo governativo

A centenária Escola Secundária Afonso Domingues, fundada em 1884 e localizada, presentemente, na freguesia de Marvila - Lisboa foi, desde sempre, um excelente polo formador de cursos nas áreas da Electrónica, Química, Electricidade, Mecânica, Desenho Industrial e Informática (entre outros). Era, muito justamente considerada, a nível nacional, um dos melhores estabelecimentos de ensino técnico, num País onde não abundavam (infelizmente) os cursos secundários de pendor técnico (mas onde abundam engenheiros domingueiros e doutores credenciados em folclore).


No decurso da triste governação de José Sócrates, com a decisão de se construir uma terceira ponte sobre o rio Tejo, que ligaria o Barreiro a Lisboa o traçado da mesma, na margem da capital, colidia com a localização geográfica da Escola pelo que se decidiu pelo encerramento escolar, triste evento esse o que veio a ocorrer em 2010. Optou-se pelo seu encerramento, puro e simples, sem sequer os governantes da altura terem arranjado uma outra localização para o funcionamento da mesma.
 
Opositor a este encerramento perfilou-se, entre outros, a Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues tendo, para tal, lavrado uma excelente e bem estruturada exposição, da qual deu voz pública mas sem sucesso. Sobre esta exposição, cuja leitura recomendo, pode-se consultar a mesma, por exemplo, no blogue "alma_lusíada.blogspot.pt/2010/07/completando-notícia-do-público-de-hoje.html".
 
Antes do seu encerramento e já se sabendo da sua morte anunciada, o Estado (ou seja nós todos os que cumprimos as nossas obrigações fiscais) reestruturou todo o equipamento escolar do edifício, despendendo uma pipa de dinheiro que acabou por não ter aproveitamento, face ao encerramento da mesma. Ou talvez caiba a pergunta: não terá tido aproveitamento para alguns amigos do poder que efectuaram as referidas obras de modernização do edifício?
 
No fim de tudo, e como triste final de história, com a chegada de novos governantes, a construção da ponte foi inviabilizada e a Escola, em vez de ter sido reaberta, ficou fechada e a degradar-se. Como ainda hoje, quem passa por lá, pode observar. Todo um património escolar foi deitado fora, em nome da vã glória de mandar.
 
Fez-me lembrar uma frase de Victor Hugo: "Cada escola que se fecha é uma prisão que se abre."
 
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Os Bombeiros Voluntários do Beato são uma corporação humanitária que servem a freguesia onde estão inseridos. Estão pessimamente instalados, há décadas, sem quartel decente próprio e não têm parque de estacionamento para as suas viaturas operacionais, sendo obrigados a aparcarem as mesmas e procederem aos seus arranjos na rua, com todos os incómodos que daí advém não só à circulação do trânsito como também à segurança do mesmo.


Apesar de não concordar com a  existência de bombeiros voluntários (para mim devia de existir um Corpo Nacional de Bombeiros, profissionais suportados pelo Orçamento do Estado) não é essa a questão que quero abordar. Respeito estes em concreto, como respeito todas as outras corporações, pelo excelso serviço humanitário que nos prestam.
 
Uma das propostas colocadas em cima da mesa aos nosso governantes, e pela qual a Junta de Freguesia do Beato se tem batido, era transferir esta corporação para as instalações da extinta Escola Secundária Domingos Rebelo. Sobre esta tomada de posição pode-se consultar o boletim da referida Junta subordinada ao título: "Um novo quartel para os bombeiros do Beato: uma luta de décadas." Traria vantagens para todos, pois sempre seria uma mais valia para os bombeiros mas também para o Estado já que aqueles cuidariam das instalações do complexo escolar em causa, travando a sua degradação.
 
O processo está praticamente todo concluído, depois de ter obtido a aprovação do Ministério da Educação, da Direcção Regional de Educação de Lisboa, e do Ministério da Administração Interna. Então o que falta? Pelo que apurei... falta a assinatura do Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar.
 
Ou seja, estão centenas de milhares de euros a irem pelo esgoto, face à degradação permanente do complexo escolar, alvo indefeso de constantes de vandalismos face ao seu abandono (depois do que se gastou em modernizá-la para de seguida encerrá-la); está toda uma corporação humanitária a funcionar em condições infra-humanas; os benditos carimbos burocráticos estão todos colocados nas actas, mas... falta o Exmº Senhor Secretário de Estado se dignar a botar a sua assinatura.
 
Deve ser uma decisão muito difícil de tomar, esta de assinar um documento, depois de todos terem concordado. Será que ele anda a dormir? Será que o processo se perdeu nos meandros dos corredores da Secretaria de Estado? Será que ele se esqueceu do assunto? E será que ele também se esquece de levantar o vencimento que lhe cabe pelas funções governativas que exerce?
 
Para não pensar o pior, o mínimo que se pode dizer é que isto é mais um exemplo de desleixo governativo, por não cuidarem da coisa pública a que estão obrigados.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

"I have a dream"

Comemora-se, no dia de hoje, o quinquagésimo aniversário do discurso que Martin Luther King (MLK) proferiu no Lincoln Memorial, em Washington. É, sem dúvida, um daqueles discursos que ficará indelevelmente associado à conquista das liberdades cívicas e que ultrapassou as fronteiras estadunidenses.    
 


 

Porque MLK, cônscio das permanentes ameaças de morte que recebia e do alto risco que a sua vida corria, discursou para a História, como se fosse o seu testamento político. E este poderoso discurso foi não só o testamento político, para ele, como também uma nova e revigorada carta dos direitos humanos, para todos nós.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O sentido pátrio

No pretérito Domingo, durante o habitual programa de comentários políticos sobre a semana finda do professor Marcelo Rebelo de Sousa, no período consagrado às respostas a perguntas de telespectadores foi levantada um questão, muito pertinente, pela ouvinte Rosário Malheiro que inquiria se questões constitucionais que iam agora ser debatidas e resolvidas no Tribunal Constitucional (TC), quando metade dos juízes estavam de férias, porque razão eram necessários tantos juízes naquele órgão se metade deles bastavam para tal. O Professor Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de dar razão à telespectadora em causa, apesar de dourar diplomaticamente a pilula, como é sempre seu timbre.
 
Na realidade não se percebe porque, no meio de tantas mordomias que os juízes do TC têm (sendo a mais flagrante e escandalosa o facto de poderem reformar-se por inteiro ao fim de (apenas) dez anos de trabalho naquele organismo), não podiam suspender as férias e irem soberanizar questões fulcrais para o futuro do nosso País.
 
 
Mas não, não podem. Aliás, podem mas não querem. E, assim, acabam com este triste exemplo, por darem uma imagem de falta de sentido pátrio. O interesse individual de gozarem as suas férias sobrepõe-se ao interesse colectivo de servirem a causa pública. Servem-se legalmente do cargo mas, assim, não servem eticamente o mesmo. O que é lamentável.
 
E acabam, com estes episódios, por darem razão à pergunta: para quê pagar a tantos se metade resolvem o assunto? E daí a cair-se no raciocínio demagógico de que sempre era um método de se poupar dinheiro no orçamento do Estado, vai um passo.
 
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E por falar em demagogia nestas situações do primado da economia sobre o número de cargos, a título exemplificativo, lembro aqui uma declaração que António José Seguro, como Secretário-Geral do Partido Socialista, efectuou a 05 de Outubro do ano passado,  num jantar em Alenquer onde afirmou que, até ao final desse ano, iria apresentar no Parlamento uma proposta de alteração da Lei Eleitoral para diminuir o número de deputados, que actualmente é de 230, com o justificativo envernizado de melhor aproximar os eleitos dos eleitores (?).
 
Que eu tenha conhecimento tal propósito não foi avante, para bem da democracia plural, pois arriscaria por varrer, do espectro parlamentar, os partidos com menor número de deputados mas que, no entanto, não deixam de representar uma determinada percentagem segmentária da sociedade civil, que importa não remeter para guetos.
 
Para além de ter sido um "tiro no pé" (mais um) exigia-se a este político mais sentido de Estado, até porque corremos o risco de o vir a ter como Primeiro-Ministro (PM). É que esta louvaminha a um potencial eleitorado cansado dos actuais governantes é incompatível com um grau de exigência que se requer a um putativo futuro PM.

domingo, 25 de agosto de 2013

Neil Armstrong

Houve um Homem das Estrelas que, pelos seus feitos excepcionais em prol da Ciência Aeroespacial, me fez sonhar (e ainda faz) tendo eu apenas, nos meus devaneios oníricos, o Céu como limite. Motor de busca do meu imaginário de criança (que felizmente ainda não perdi de todo), fez com que grandes sonhos meus fossem pequenos saltos na história da minha vida.
 
 
Esse Homem, que transformou o seu pequeno passo selenita que um dia deu num salto gigantesco para a Humanidade, para a História ficará sempre como o conquistador da última fronteira terrestre. Neil Armstrong, esse Peregrino Cósmico, faleceu há precisamente um ano.   

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Gustavo Sampaio

O jornalista Gustavo Sampaio lançou um livro da sua autoria, com o título de "Os privilegiados" (Esfera dos Livros, 2013, 242 págs.) que acabei agora de o ler. Como subtítulo, na capa, acrescenta: "Como os políticos e ex-políticos gerem interesses, movem influências e beneficiam de direitos adquiridos".
 
 
 
Pelas suas páginas percorremos o sinuoso caminho do casamento do poder político com o poder económico, dos conflitos de interesses no Parlamento, do tráfego dos ex-políticos para as grandes empresas, dos escandalosos direitos adquiridos legislados pela classe política em seu proveito, entre outras situações escusas, escuras e obscuras.
 
Não é um libelo anti-políticos nem contra os partidos, mas sim um auto de denúncia dos exageros desavergonhados em que parte dos nossos governantes (ministeriais e parlamentares) cuidaram de tratar das suas vidas e, sem peias, chama os bois pelo nomes, não caindo na "politiquice de café" em pôr todos  no mesmo saco. Um livro que devemos ter presente nalguns momentos da nossa vida colectiva, como na altura das eleições, por exemplo. 
 
Porque, felizmente, ainda há um legado abrilino que não conseguiram fazer claudicar: a liberdade de escrever, com responsabilidade. E este livro é um bom exemplo disso. Por isso o recomendo.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Paulo Portas

O actual Vice-Primeiro-Ministro, Paulo Portas é, irrevogavelmente, o Rei das piruetas políticas. Ele é grandioso demais quer para o partido que lidera, quer para o País que "vice"-dirige. Sobre esta personagem política li um excelente artigo de opinião da jornalista Fernanda Câncio, que publicou no dia de ontem, no Diário de Notícias, sob o título "Um político que de irrevogável só mesmo a contradição" e que transcrevo, de seguida, na íntegra (1).
 
Em meia dúzia de pinceladas, Fernanda Câncio refresca-nos a memória sobre o sinuoso pensamento político deste homem que, espero eu, tenha atingido o cume da sua carreira política e daqui não vá mais longe.
 
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"Na semana em que o líder centrista se estreia a presidir ao Conselho de Ministros, revisite o percurso de quem jurava aos 30 nunca fazer política e aos 50 chega a vice-primeiro-ministro.
Não foi na semana passada (Passos veio de Manta Rota estragar a estreia) mas será nesta: Paulo Sacadura Cabral Portas não chega ao fim do seu meio século de vida (faz 51 em setembro) sem concretizar um sonho nada secreto: ser número um do Governo. Não é (ainda?) no organograma oficial, mas se há quem o garanta já, atendendo às pastas que agora acumula, primeiro-ministro de facto, inaugurar-se-á quinta-feira na direção do Conselho de Ministros.
"Graças a Deus", dirá talvez, como tanto gosta de repetir. E graça tem certamente: é olhar o seu percurso. "Geneticamente anti-poder" aos 30, sem "nenhumas ambições políticas" aos 28, candidato a deputado aos 32. Amigo, criador e seguidor de Manuel Monteiro aos 31, derrotando-o (e desfazendo-o) na liderança do partido aos 33, em 1998. Inimigo ajuramentado de Cavaco e dos seus governos durante todo o tempo de O Independente, perguntando, em 1995, que raio iria este fazer para Belém, garante agora que o apoiou sempre nas candidaturas a PR. Antieuropeísta e antieuro nos anos 90, alertando para o perigo da Alemanha unificada, é em 2013 vice-PM de um governo que segue à risca a cartilha Merkel. Vigoroso denunciante do "bloco central dos interesses", das "negociatas do poder" e do escândalo BPN, cede o MNE a Rui Machete, ex-presidente do conselho consultivo da SLN. Candidato à Câmara de Lisboa em 2001, garantia nos cartazes "eu fico" (como vereador), para não ficar. Antiausteridade até às eleições de 2011 (em entrevista ao DN, em 2009, defendia baixar impostos - "o défice é importante, mas a economia ainda é mais" - e em 2010 garantia "saber onde cortava" para poupar o Estado social), autor, em 2012, de uma carta aos militantes do CDS em que certificava não admitir outro agravamento fiscal, assinou o orçamento que em 2013 bateu o recorde da subida de impostos na democracia portuguesa; defensor irredutível dos pensionistas em setembro de 2012, dez meses depois anuncia o corte de 10% nas pensões da CGA. Liberal irreverente, individualista e antipartidos aos 29, logra ser quem há mais tempo (13 anos) dirige um, professando, no debate do Estado da Nação que se segue à revogada demissão irrevogável: "Em caso de opção entre a razão pessoal e a de partido, deve prevalecer a de partido."
Primórdios. Mas, se perguntarmos se ele avisou, avisou. "Os políticos têm um código hipócrita, é preciso descodificar o que dizem", garantia aos 29 anos o filho da economista (de direita?) Helena Sacadura Cabral e do arquiteto (próximo do PS) Nuno Portas (cujas pisadas profissionais teria querido seguir, não fosse o mal que se dava com a matemática). Dirigia então O Independente e fazia do semanário fundado em 1988 com Esteves Cardoso e o mais tarde correligionário no PP Nobre Guedes (amigo íntimo cuja demissão da vice-presidência do partido manterá em segredo quase um ano, atestando da dificuldade nessa rutura pessoal e política) o púlpito de onde esportulava a sua visão do que devia - e sobretudo do que não devia - ser a direita portuguesa. Tinha começado cedo, de resto, essa missão paralela à do irmão Miguel, militante do PCP e depois fundador do BE cuja morte, em 2012, uniu no palco do Teatro São Luís, numa longa cerimónia transmitida em direto, a nomenclatura do partido mais à esquerda no espectro parlamentar e o chefe do mais à direita, num inusitado misto de liturgia da dor e propaganda política.
Aos 13, ainda aluno do colégio São João de Brito, inscrevia-se, por via da admiração até hoje proclamada ao presidente-fundador Sá Carneiro, no PPD/PSD, cujo órgão oficial, Pelo Socialismo (!), chegou a dirigir; aos 15 ia a tribunal por ter acusado Eanes, Soares e Freitas de trair a pátria (em As três traições, publicado em 1978 no Jornal Novo); aos 19, dois anos após a morte do fundador, saía do partido para, afirmaria categoricamente durante 13 anos, nunca mais voltar à política - partidária, bem entendido. "Se há uma coisa definitiva na minha vida e na minha cabeça, uma delas é essa: gosto imenso de política mas nunca farei política", certificava em 1991 numa entrevista na RTP2. "Os partidos são uma maçada, e ser militante é uma maçada. Os quadros dos partidos são muito medíocres e acham que aquela é a forma mais fácil de subir na vida. Os partidos dispensam o mérito." Na mesma entrevista, esguio e jovem, tão jovem e descontraído na camisa clara, gestos rápidos como o olhar e o verbo, os tiques teatrais que hoje lhe conhecemos - a pose esforçada de estadista, a virilidade imposta na voz, a rima nas frases ritmadas - tão longe ainda, arrumava o CDS com desprezo: "Qualquer dia ninguém vai para lá." E definia-se, no tom de enfant terrible bem nascido em que fazia questão (contra "a democracia dos ignaros" que invetivava na sua coluna, "os homens sem história", "bando posidónio" do cavaquismo, que viam "na política uma espécie de promoção social" e consideravam "bem ter nascido mal"), como "uma pessoa de direita meio liberal meio conservador" elogiando em Salazar (no contraste com Cavaco, "um homem ordinário" com quem a comparação, a seu ver, era injusta para o ditador) a inteligência, a escrita e o "raffinement do cinismo". Dois anos depois, no programa Raios e Coriscos, de Herman José, reiterava o nojo aos políticos: "O poder é a pior coisa... Sou geneticamente contra o poder, seja de quem for. No dia em que um amigo meu lá chegar, passo-me para a oposição ou deixo de ser amigo dele."
Quase. No mesmo programa, Zita Seabra, acabada de chegar ao PSD vinda do PCP, apontava o bluff: "Quem é que tem mais poder, o Paulo como diretor do Independente ou o ministro do Mar ou de outra coisa qualquer?" A resposta é um chuto para canto. Afinal, faltam dois anos para que abandone o jornalismo (voltará a ser comentador político, mas só na TV, de cada vez que "sai" da política ativa, em 1997 e entre 2005 e 2007) pela tal maçadora, medíocre, oportunista e salobra "vida de partido", e por uma imparável - irrevogável? - caminhada poder político acima. Aquela que o traz aqui, à semana de agosto de 2013 em que, pela terceira vez membro de um Governo de coligação PSD/CDS, tem pela primeira a sigla "PM" na descrição do cargo. Vistas daqui, as palavras do jornalista, recentemente objeto de resenha no Expresso, são uma espécie de outra vida - de tal modo que no registo parlamentar, em "ocupação principal", apôs "jurista", categoria para a qual o curso de Direito o habilita mas que nunca exerceu. Será mesmo dos únicos, senão o único, ex-colunista notável que nunca deu ao prelo os seus escritos em livro. Percebe-se: lê-lo e à sua acerada, quase sempre brutal, pluma não é só um exercício de contemplação da ironia e de revisitação nostálgica (ah, o quanto a vida nos muda). É sobretudo perguntarmo-nos o que não diria Portas colunista do Portas político, que adjetivos ofertaria a sua brilhante crueldade para tanta pirueta, cambalhota, dito por não dito, não dito por dito. E se, como jurava há 20 anos que faria, cortou relações consigo ou logrou refinar o cinismo até disso se poupar."
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(1) - Propositadamente aguardei um dia após a publicação do artigo para agora o respigar.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Os ingénuos

Sobre os cortes de 10% nas pensões e reformas que o Governo pretende avançar, António José Seguro afirmou, aquando da sua deslocação à Madeira, que o Partido Socialista iria pedir a intervenção do Tribunal Constitucional e, quando fosse Governo, se essa medida ainda estivesse implementada, seria uma das primeiras medidas a arrepiar caminho, pois iria repor aos pensionistas e reformados o valor das suas prestações sem cortes.
 
António José Seguro não é nada ingénuo. Com esta afirmação, de certeza que já caçou uma mão cheia de votos numas próximas eleições legislativas do pessoal que já se encontra inactivo e que está cansado de ser espoliado das suas pensões/reformas que apenas servem para pagarem Swap´s, BPN, BPP, PPP´s, Banif, rendas garantidas em contratos blindados, assessorias de mega escritórios de advogados e outros quejandos.  
 
Veremos é se esta promessa será cumprida ou se foi apenas mais um tiro ejaculatório.
 
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Noticia a imprensa que Rui Machete, o nosso seráfico Ministro dos Negócios Estrangeiros, comprou acções da SLN a 1 euro cada quando, no mesmo período e enquanto presidia à FLAD, adquiriu essas mesmas acções para este organismo a 2,20 euros cada. 
 
Questionado sobre esta discrepância de valores, recusou qualquer tipo de favorecimento pessoal por parte de Oliveira e Costa, esclarecendo que desconhecia o valor que as acções tivessem sido vendidas a outros interessados, fossem pessoas individuais ou colectivas.
 
Mas, pergunto eu que sou lerdo nestas questões comezinhas: mesmo admitindo a sua ingenuidade(?) em todo este escabroso processo BPN, mesmo sabendo que nos idos 90, presidiu a uma comissão que ilibou Oliveira e Costa de perdões fiscais que este concedeu a empresas, mesmo sabendo-se que Rui Machete presidiu ao Conselho Consultivo do BPN, não estranhou que o mesmo tipo de acções tivessem valores diferentes para si, enquanto pessoa ou para a FLAD enquanto presidia à mesma?  
 
É que a minha lerdice acaba quando querem fazer de mim  parvo. Porque será que, pelo menos eticamente, isto cheira-me a podridão política?

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Urbano Tavares Rodrigues



Morreu Urbano Tavares Rodrigues, escritor, ensaísta, jornalista e um humanista de primeira água. Militante comunista desde a primeira hora até ao último suspiro, partiu aos 90 anos sem ter recebido uma das honrarias que mais almejava: o "Prémio Camões", sendo ele "primus inter pares"  do nosso escol intelectual. Agora... é tarde, por mais lágrimas de crocodilos que os responsáveis de tal esquecimento vertam.
 
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Lisboa tem mais um miradouro a partir de hoje, localizado no cimo do Arco da Rua Augusta, que permite visualizar a baixa pombalina numa rotação de 360º. E todo o esplendor do Tejo, mesmo ali perto. De parabéns a cidade e todos nós.
 
Que pena não haver eleições autárquicas todos os anos.   

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Os apodrecidos

Após a sua tomada de posse como Ministro dos Negócios Estrangeiros do actual Governo, quando confrontado com as acusações que lhe faziam sobre a sua passagem na SLN (o polvo do qual o BPN era um dos braços), Rui Machete, do alto da sua cátedra respondeu, pouco diplomaticamente, que: "... isso denota a podridão dos nossos hábitos políticos..."
 
Hoje, ao demitir-se do seu cargo de Secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge abalado pelo escândalo de ter tentado vender produtos tóxicos e lesivos para o interesse público, referiu: "...É este lado podre da política, de que os portugueses tantas vezes se queixam, que expulsam aqueles que querem colocar o seu saber e a sua experiência ao serviço do País."
 
Realmente... algo vai podre no Reino de Portugal. Só que não fui eu (e muitos outros milhões de portugueses) que lucraram de sobremaneira com as acções viciadas do BPN, nem fui eu (e muitos outros milhões de portugueses) que tentaram vender produtos tóxicos e lesivos para o interesse público.
 
A mim (e a muitos outros milhões de portugueses) só nos compete sermos os pagantes para se remover estes excrementos todos e podermos respirar um pouco de ar mais limpo.
 
Realmente... algo vai podre no Reino do Laranjal. 
 
 
 
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No dia de hoje, em 1955 começou, em Lisboa, o arranque das obras para a construção do Metropolitano, promovendo-se a ligação dos troços Rotunda / Sete Rios e Rotunda / Entre Campos. Só a 29 de Dezembro de 1959 é que este meio de transporte entrou ao serviço do público e, de então para cá, a rede subterrânea aumentou.  

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ponte Salazar / 25 de Abril

Faz hoje precisamente 47 anos que se inaugurou a Ponte Salazar (actual 25 de Abril), uma das  obras mais emblemáticas do Estado Novo. Inicialmente apelidada de Ponte sobre o Tejo, logo o seu nome foi alterado para homenagear Oliveira Salazar, à data Presidente do Conselho de Ministros.


Recordo uma piada que na altura logo surgiu, nos seios oposicionistas, e que relatava que, quando o ditador atravessou a ponte, esta abanou nas suas estruturas o que preocupou os engenheiros responsáveis pela construção da mesma, pois tinham testado a sua resistência para suportar enormes cargas, mas acabaram por concluir que o abano da mesma se devera... ao peso da consciência do político homenageado.  

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Paulo de Morais

De há uns tempos a esta parte comecei a prestar mais atenção às intervenções de Paulo de Morais, Vice-Presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade, quer nos canais televisivos quer na imprensa escrita. O seu combate desassombrado em prol da clareza da actuação de diversos sectores da nossa sociedade civil levou-me a tê-lo como uma das referências que levo em conta para efectuar os meus juízos de valor. Assim, acabei por adquirir este fim de semana passado, o livro da sua autoria "Da corrupção à crise - que fazer?" (Gradiva, 2013, 145 pgs.) e, mais uma vez, ele não me desiludiu.
 
 
Percorrendo as suas páginas, o Autor põe o dedo na ferida do fenómeno da corrupção no nosso País, que considero um dos principais cancros sociais que nos atinge colectivamente, chamando os "boy(i)s" pelos nomes, denunciando situações concretas e apontando, na sua perspetiva, caminhos para a resolução de inúmeros problemas que nos afligem.
 
Concordando-se ou não com os seus pontos de vista, uma coisa é certa: Paulo de Morais é uma voz incómoda no pantanal político, judicial, autárquico e empresarial em que nos deixámos cair. Por isso recomendo a leitura deste livro.
 

domingo, 4 de agosto de 2013

Rita Silva


Em Janeiro do corrente ano "Zico", um cão arraçado de pitbull, matou uma criança. Nesta semana que findou o Tribunal Administrativo de Beja impediu o abate do mesmo, a ser efectuado pelo Canil de Beja e ordenou a sua entrega à Associação "Animal", numa tentativa de recuperação do cão. Nada a opor sobre esta ordem judicial, que aceito. 
 
Mas a dirigente desta organização, Rita Silva, entrevistada esclareceu que : "Vamos chamá-lo Mandela, porque tal como o líder sul-africano este cão também é um símbolo de liberdade. Esteve preso sete meses sem saber porquê, tal como Mandela esteve preso mais de duas décadas." (Público, 31/07/2013)
 
 
 
 
Realmente se a estupidez e a imbecilidade pagassem impostos esta senhora andaria toda carimbada pelas Finanças. É que comparar um cão a um ser humano, mais a mais com todo o peso histórico que Nelson Mandela, esse gigante da política, nos legou... só mesmo duma mente obnóxia.
 
Atitudes infantis como esta fazem-me lembrar Thomas Hobbes que afirmou: "O homem é o lobo do homem." Mas será que esta senhora terá capacidade intelectual para perceber isto?