"Não nos assusta morremos pela Pátria mas sim sermos enterrados com ela." (Cunha Leal)


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Racismo paternalista

Lê-se, correntemente, na imprensa a expressão "afro-americano" quando se pretende referir a  alguém que é cidadão norte-americano e negro. A título exemplificativo rotula-se Barak Obama como o primeiro Presidente "afro-americano", querendo com isto dizer que ele é "negro" e "americano". Ora esta expressão está errada. Porque só um cidadão americano nascido nos EUA é que poder ser Presidente deste País. Veja-se o caso, por exemplo, de Arnold Schwarzenegger que liderou o Estado da Califórnia como Governador, mas não pode candidatar-se a Presidente porque tendo nascido cidadão austríaco e optado posteriormente pela cidadania norte-americana a Constituição impede-o de tal. Por isso o termo "americano", nesta circunstância específica, está a mais. E o termo "afro" acaba por ter uma conotação racial pois refere-se à sua cor de pele, à sua origem étnica/racial.
 
 
Assim, retomando o exemplo de Barak Obama, o correcto será referi-lo como Presidente dos EUA. E ponto final. E se ele (ou qualquer outra pessoa) fosse descendente de asiáticos, seria o quê? Asiático-americano?  Hispano-americano, se tivesse ascendência hispânica? E se os seus progenitores fossem nativos das ancestrais nações índias? Seria referido como o primeiro Presidente americano-americano? Bi-americano? Ou americano-genuíno?
 
Penso que o correcto será referir-se a ele ou a qualquer outro cidadão daquele País simplesmente como "americano" ou "norte-americano". Porque a colagem da cor da pele à sua condição de cidadão não passa de um acto irreflectido de racismo.
 
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Veja-se o caso de Mia Couto, por exemplo. É referido como cidadão moçambicano e ponto final. O que está correcto. Ninguém o refere como branco-moçambicano, o que seria estupidez. Recordo-me de, após a independência, nos bilhetes de identidade dos cidadãos angolanos constar a raça do titular. Levantou-se sempre um coro de protestos pois isso era uma forma de discriminação racial. Penso que, no tempo corrente, esta classificação identitária já foi retirada.
 
 
Tal como não cabe na cabeça de ninguém rotular um cidadão português (descendente de portugueses da Europa e de etnia branca) e que nasceu em Moçambique, por exemplo, de branco-português ou caucasiano-português. Ou um português, que seja negro, de afro-português.
 
Pode-se rotular uma pessoa como luso-cabo-verdiana, ou luso-guineense, mas porque ela tem a dupla nacionalidade e não pela pigmentação da pele. Esta terminologia tem a ver com as cidadanias que uma pessoa tem e não porque é amarela, preta, encarnada ou seja qual for a cor da sua pele. 
 
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Nota: Os nomes aqui apontados (Barak Obama e Mia Couto) foram-no aleatoriamente, apenas por se tratarem de pessoas reconhecidas universalmente e, assim, facilitarem-me a explanação.
 
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E por falar em Barak Obama. O Presidente estadunidense vai desencadear ataques cirúrgicos à Síria, depois de ter apresentado tal proposta ao Congresso, que a aceitou. Será uma guerra temporal (60 dias, podendo-se prolongar por mais 30) com mísseis e sem tropas no terreno.
 
Estamos a falar dum galardoado com o Prémio Nobel da Paz, ou estou confuso?